Os riscos do capim Massai para cavalos
Problemas vão desde
cólica até a morte do animal.
O capim Massai, variedade do gênero Panicum, embora seja
recomendado para equinos pelo excelente valor nutritivo e alta palatabilidade,
há ressalvas de utilização, devendo ser manejado adequadamente para se evitar
riscos à saúde do animal e, em alguns casos, até a morte, como aconteceu em um
haras na cidade de Nova Soure (BA), em outubro de 2016.
Na ocasião, 11 animais da propriedade foram acometidos simultaneamente
por fortes cólicas, e quatro evoluíram para óbito após pastejo em pastos de
Massai. "Usávamos o Massai e o Mombaça, alimentação com volumoso, há dois anos.
De vez em quando, um animal apresentava desconforto abdominal, necessitando
atendimento veterinário, até que ocorreram as mortes", relatou o proprietário
do haras, Fred Villa.
Segundo ele, além da necropsia realizada nos cavalos mostrar
lesões intestinais semelhantes a de animais acometidos pelo mesmo problema com
o Massai, foi feita análise da ração usada na alimentação dos cavalos e
descartada contaminação do produto, ficando comprovado que as mortes foram
realmente causadas por causa do capim.
Villa explica que nos Estados da Região Norte do país há
vários relatos de mortes de equinos relacionadas ao capim Massai em épocas de
chuvas, quando o índice de pluviosidade é grande. "Aqui no haras, como é sertão
e não chove muito, não imaginávamos que pudéssemos ter o mesmo problema. Porém,
o fato de ser uma cultura sob irrigação diária, simulou o mesmo 'período de
chuvas' que ocorre na Região Norte. A partir de então resolvemos trocar todo o
capim Massai por gramíneas da família Tifton e não ocorreram mais casos de
cólica na propriedade", explica.
O veterinário Fabrício Juliano de Oliveira Campos também
presenciou uma situação catastrófica no Haras Santa Maria, em São Miguel do
Aleixo (SE), onde foi fornecido a 21 animais em baia capim Massai. "Os cavalos
ingeriram o capim à tarde e, na manhã seguinte, 12 deles apresentaram fortes
cólicas abdominais."
Na tentativa de reverter o quadro, conta Campos, cinco
cavalos foram encaminhados para cirurgia, porém, três morreram antes de serem
operados e um, o garanhão do haras, acabou vindo a óbito após a cirurgia. "É
uma situação horrível de enfrentar", lamenta o veterinário, e completa: "A necropsia
apontou que a causa foi realmente o capim Massai."
Campos conta que o capim havia sido plantado há mais de dois
anos e era fornecido basicamente uma vez por mês aos animais, sendo que nunca
houve relatos de contratempos antes, mas após esse período aconteceram as
mortes. "Algumas literaturas informam que o capim Massai, após 2 anos, começa a
produzir um carboidrato que é indigesto para equinos, o que acaba levando a
esse quadro de atonia, que é a falta de movimentação intestinal, aumento de
produção de gases, gerando timpanismo, e os animais acabam vindo a óbito por
falta de movimentação intestinal e toxemia causada pelas bactérias que estão no
trato digestivo", esclarece.
Onde mora o perigo
Para o Professor da ESALQ-USP, Cláudio Haddad, o grande risco
à saúde do equino reside no fato de se efetuar o pastejo com o capim Massai em
adiantado estado de maturidade, ou seja, colocam cavalos para pastejar capim
passado, muito fibroso, e com baixa relação folha/haste (muito talo e pouca
folha).
"Essa condição provoca constipação do trato digestivo,
evoluindo para um estado de cólica e levando o animal a óbito. Pessoalmente,
tenho e utilizo o capim Massai há oito anos, sem nenhum problema, e não tenho
receio de recomendá-lo para utilização na alimentação de equinos. Se o animal
for introduzido em um pasto em crescimento, com alta relação folha/haste, não
haverá nenhum problema, e ele aproveitará todo o excelente valor nutritivo da
forrageira", esclarece.
Haddad afirma que muitos estudos foram e ainda são realizados
procurando um agente causal biológico, tal como fungo, protozoário, bactéria,
para a mortalidade de equinos relacionada ao capim Massai. Embora as pesquisas
sejam válidas, na opinião do professor, a causa é distinta, meramente física:
muita fibra causando constipação.
"Na grande maioria dos haras que conheço que utilizam o capim
Massai não existe o problema, ou seja, não há mortalidade por cólica. Por que?
Porque em haras, o manejo dos piquetes é correto, com observância de momento de
entrada e saída dos animais, procurando sempre fornecer forragem de alta
relação folha/haste, ou seja, material folhoso e de alto valor nutritivo e
palatabilidade. É o modo correto de manejar essa forrageira, que é excelente
para equinos."
A mortalidade quando ocorre, explica Haddad, normalmente é em
fazendas de gado de corte, em piquetes de Massai destinados à tropa. Como o
capim Massai é de rápido crescimento e os piquetes são dimensionados em grande
tamanho (típico de fazendas de corte), a tropa não consegue consumir o capim
quando há bastante folha na forragem e o material envelhece (amadurece),
aumentando perigosamente a proporção de colmos (talos) em relação às folhas.
Nesse estágio, o perigo aumenta e ocorrem as cólicas.
"Nessas fazendas, dificilmente você encontra um profissional
habilitado a atender os casos de cólica equina e o tempo é fundamental, então
as mortes se avolumam. Cheguei a testemunhar propriedades onde morreram dezenas
de cavalos, simplesmente porque insistiram em manter animais em pasto passado.
Isso dificilmente ocorreria num haras, onde a preocupação em fazer o pastejo em
pastos com boa relação folha/haste é uma constante."
A sugestão do professor para evitar a mortalidade de equinos
devido à ingestão de capim Massai é simples: deve-se diminuir o tamanho dos
piquetes para a tropa (efetuar divisões mais racionais) e utilizar roçadeira
quando o capim apresentar sinais de amadurecimento. "Roçando um capim passado,
eliminam-se os colmos e estimula-se o crescimento de novas folhas. Isso se não
quisermos utilizar o pastejo bovino para eliminar os indesejáveis colmos."
Na opinião de Haddad, o melhor tipo de capim para cavalos
pertencem ao gênero Cynodon: Tifton 85, Jiggs, a estrela africana (estrelinha
branca), entre outros. "São os melhores capins, mas somente propagados por
mudas, o que se torna mais caro e não utilizados nas fazendas de gado de corte.
Já nos haras, cerca de 95% de todas as forragens existentes e utilizadas
pertencem ao gênero Cynodon, que apresentam grande plasticidade de uso (se
amadurecer o cavalo ainda consome sem grande prejuízo), alto valor nutritivo,
alta capacidade de colonização da área, possibilidade de ser fenado, entre
outras vantagens", finaliza Haddad.
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